domingo, 12 de junho de 2016

História da Casa Andresen

«Em 1802, o francês Jean Pierre Salabert, fabricante de "chapéus finos", comprou a Quinta Grande, outrora pertencente à Ordem de Cristo, que passou a ser conhecida como "Quinta Grande do Salabert". Pouco tempo mais tarde, a Quinta foi confiscada pelo Estado ao seu proprietário, na sequência das Invasões Francesas. Por altura da Revolução Liberal de 1820, já era propriedade de João José da Costa.
Em 1875, a propriedade foi adquirida por João Silva Monteiro, "brasileiro de torna viagem", que ordenou a demolição da antiga habitação e a construção de um palacete na então denominada Quinta do Campo Alegre.
Vinte anos depois, a Quinta passou para a posse de João Henrique Andresen Júnior e de sua mulher, Joana Andresen, que concluíram o projeto de renovação da casa e dos jardins. João Andresen era filho do homónimo industrial e comerciante de vinho do Porto e foi avô dos escritores Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e Ruben A. (1920-1975).
A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto debateu-se com falta de espaço para as atividades lectivas e de investigação logo nas primeiras décadas de funcionamento. Em reunião do Senado Universitário de 9 de Agosto de 1937, Américo Pires de Lima, vogal e diretor da FCUP, fez aprovar por unanimidade a seguinte proposta: expor ao Governo a necessidade de aquisição da quinta que pertencera a Joana e Henrique Andresen, para nela instalar o Jardim Botânico, o Observatório Astronómico e um campo de jogos. Logo no mês seguinte, a U.Porto enviou ao Ministro da Educação Nacional o pedido dos "seus bons ofícios para a aquisição da Quinta Grande de "Salabert", na Rua do Campo Alegre, n.ºs 757 a 771, a qual se destinaria a Jardim Botânico e à instalação de Museus, de campos de jogos e de cultura física da mocidade universitária". No final do ano, o Reitor informou os membros do Senado de que a compra da Quinta de Salabert tinha sido aprovada pelo Governo.
Porém, apesar das pretensões da Faculdade de Ciências, a compra da quinta permanecia por efetuar em 1943. Por esta altura, o Diretor da Faculdade, em ofício dirigido ao Reitor, exprime a sua mágoa perante o abandono a que o terreno e a moradia tinham sido votados: "O parque, jardins e estufas estão em risco de deterioração por falta de cuidados apropriados".
Entretanto, o Ministério da Educação Nacional teve conhecimento de que parte da Quinta do Campo Alegre iria ser expropriada para garantir a construção de acessos à Ponte da Arrábida. Razão pela qual o Ministério das Obras Públicas e das Comunicações achava não ser conveniente a compra da propriedade pela Universidade do Porto. Mas o Ministério da Educação Nacional não abandonava o seu interesse pela Quinta: "Este Ministério (…) reconheceu a necessidade de se dotar a Universidade do Porto de instalações que não possui; e reconheceu também que o local mais adequado para preencher aquelas necessidades era a Quinta do Campo Alegre. (…) O plano de urbanização há-de ser fixado de harmonia com o interesse público; o fim para que se pede a aquisição é também do interesse público. Na hierarquia destes dois interesses, qual deve ficar em primeiro lugar?"
Para além dos argumentos expostos pela Faculdade de Ciências, havia outros que jogavam a favor da compra da quinta que pertencera aos Andresen: "Socialmente, grande parte dos estudantes da Faculdade de Ciências (…) fora das aulas, vivem abandonados de toda a assistência universitária. Não falo já da tão útil e necessária residência de estudantes (…). Mas ao menos, a tão necessária educação física da mocidade universitária deve merecer o maior cuidado."
Em 1944, já é ao Presidente da Câmara Municipal do Porto que o Reitor, António José Adriano Rodrigues, expõe pormenorizadamente as vantagens decorrentes da compra da Quinta do Campo Alegre.
Finalmente, em 1949, a propriedade foi adquirida pelo Estado e no dia 7 de Janeiro do ano seguinte, a Direção-Geral da Fazenda Pública comunicou ao Reitor da U.Porto a autorização da cessão, a título precário, por parte do Ministério das Finanças, "da propriedade urbana e rústica (…) conhecida pela designação de "Quinta do Campo Alegre", para ser aplicada a diversos fins de interesse dos serviços [da Universidade] que, entretanto, se responsabilizará pela sua guarda e conservação". O Auto de Cessão foi lavrado na Direção de Finanças do Distrito do Porto.
Para a antiga Casa Andresen foram transferidos os herbários, a biblioteca e os gabinetes do naturalista e auxiliares, para além do gabinete do Inspetor do Jardim. A reparação do exterior da moradia ficou a cargo da Direção dos Edifícios Nacionais que, entre outras intervenções, recuperou os telhados. O interior do palacete, exposto às intempéries durante uma série de anos, foi também objecto de obras de recuperação de grande envergadura.
A Quinta albergava um conjunto de construções residenciais e funcionais, como a casa do antigo proprietário, de 4 sobrados (cave, rés-do-chão, 1.º piso e águas-furtadas), as casas do caseiro e do motorista, court de ténis, estufas, garagem, armazéns, eiras e cortes e, ainda, um jardim de recreio, terrenos agrícolas e mata.
Em 2008, o Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências foi transferido para novas instalações, de igual modo no Pólo 3 da Universidade, e a casa, depois de desocupada, começou a ser remodelada pelo arquitecto Nuno Valentim para acolher a exposição "A Evolução de Darwin", um evento cultural integrado nas Comemorações do I Centenário da U.Porto (2011).
Numa fase inicial, as obras centraram-se no restauro e conservação da habitação, embora também tenham contemplado a introdução de novos espaços, como um elevador panorâmico e uma casa de chá e sushi, prevendo-se que fiquem concluídas com a construção da Galeria da Biodiversidade.»

Retirado do site da Universidade do Porto

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